Projeto de pesquisa

Millepora alcicornis é um hidrocoral que desempenha um importante papel ecológico como construtor de habitat nos ecossistemas recifais, uma vez que sua morfologia gera complexidade tridimensional aos recifes e promove uma variedade de nichos que suportam alta diversidade de fauna associada. Em eventos estresse térmico, altas taxas de mortalidade e sensibilidade ao branqueamento de M. alcicornis já foram registradas, a ponto de sugerirem que a espécie fosse adicionada à lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção. A tolerância térmica de uma espécie é determinada por uma complexa interação de fatores, sendo que as condições ambientais atuais e históricas locais conduzem a diferenças fisiológicas e morfológicas intraespecíficas. Assim, o estudo com populações de diferentes regiões seja uma abordagem apropriada para a compreensão de respostas locais à fatores climáticos. O aumento da intensidade e frequência das ondas de calor também tem o potencial de alterar a complexidade arquitetônica dos recifes com a redução da densidade e cobertura de corais ramificados e influenciando medidas de complexidade estrutural do substrato. Caso a resposta para um evento de estresse seja a perda da complexidade morfológica das colônias, a estrutura do ambiente recifal também pode ser comprometida, junto com a disponibilidade de habitats para peixes recifais em diferentes estágios ontogenéticos. A preferência de peixes recifais por corais de estrutura física intacta a erodidas e colônias com ramificações mais complexas e com maior espaçamento entre os ramos enfatiza a importância da estrutura e complexidade do habitat para assembleias de peixes. Com isso, faz-se importante investigar a resposta adaptativa deste hidrocoral ramificado a eventos de ondas de calor e suas implicações para a conservação da espécie e manutenção da estrutura e funcionalidade dos ecossistemas recifais. Para tal, investigaremos a tolerância térmica de Millepora alcicornis em populações distribuídas ao longo do gradiente latitudinal do Atlântico Sudoeste e a sua capacidade de aclimatação à condições de aumento da temperatura da superfície do mar provocada por ondas de calor marinhas. Também analisaremos a complexidade estrutural recifal conferida por M. alcicornis entre regiões afetadas e não afetadas pelo branqueamento. Por fim, verificaremos se a complexidade da estrutura física de M. alcicornis e, não necessariamente seu estado, é mais importante para a preservação da função de microhabitat no ecossistema recifal.