Projeto de pesquisa

A maioria dos peixes recifais possui larvas planctônicas que dispersam pela coluna d’água com auxílio de correntes até chegarem aos habitats de assentamento, geralmente regiões rasas e costeiras que são consideradas hotspots de assentamento pelo alto influxo de larvas, pois maximizam a sobrevivência, tornando as larvas competentes para a vida nos recifes (Nagelkerken et al 2012). Após o assentamento, os indivíduos juvenis/adultos tornam-se relativamente sedentários e associados aos recifes (Sweatman 1988), capazes de migrar para longe da costa e formar agregações reprodutivas (Lindeman et al 2000). Diversos habitats costeiros rasos, como recifes, manguezais, estuários e fundos de gramas e algas marinhas, são considerados berçários para peixes recifais, pois maximizam a sobrevivência dos indivíduos após o assentamento e contribuem com uma biomassa acima da média para as populações adultas (Nagelkerken et al 2012). Esses habitats geralmente apresentam elevada complexidade estrutural (i.e., forma física e estrutura tridimensional) a qual fornece refúgio contra predadores, além de maior disponibilidade de alimento (Graham & Nash 2013). Com o crescimento, os indivíduos migram dos berçários para os recifes, algumas vezes utilizando mais de um habitat ao longo do desenvolvimento ontogenético (Silva et al 2021). A identificação e proteção de berçários e habitats associados através de áreas marinhas protegidas apresentam efeitos positivos na recuperação de populações e comunidades após sofrerem com sobrepesca, possibilitando o aumento de abundância e tamanho médio dos peixes nas reservas, assim contribuindo com a conservação de espécies e ecossistemas, além de beneficiar a pesca através da produção elevada de recrutas e do movimento dos adultos para áreas destinadas à pesca (spillover effect) (Di Franco et al 2009, Buxton et al 2014, Roos et al 2020). Desse modo, falhas na proteção de áreas costeiras, onde os berçários geralmente se distribuem, podem levar à extinção de ecossistemas inteiros e à redução de recursos naturais que são importantes para o desenvolvimento socioeconômico (Pinheiro et al 2019). Apesar do reconhecimento das autoridades governamentais no valor dos serviços ecossistêmicos prestados pela biodiversidade marinha e em especial regiões costeiras, ainda não há estratégias eficazes para a proteção de berçários de peixes recifais, o que leva ao declínio de populações de jovens e de adultos (Pinheiro et al 2019, Roos et al 2020). Identificar berçários e compreender seus efeitos na sobrevivência de larvas pós-assentamento, a diversidade e o uso de habitat por jovens, além da avaliação dos efeitos de impactos antrópicos no comportamento em ambientes recifais afetados, são caminhos que podem auxiliar a elucidar a dinâmica populacional de peixes recifais, desde o estágio inicial.